quarta-feira, 24 de junho de 2009

O Homem Sem Luz (*Artigo publicado no Jornal Comércio da Franca, ano 92, n. 19774, 3/4 dez. 2006, de autoria de Stella Menegucci Nogueira de Freitas)

Há quem diga que o homem hoje é mais primitivo do que na época das cavernas. Lévi-Strauss, etnólogo francês, já nos havia advertido de tal fato, criticando firme, mas discretamente, o homem ocidental moderno. Antigamente, o homem fazia o fogo. Mas hoje, ao queimar uma lâmpada, ou acabar a força, nos colocamos em situação de perigo, desespero, raiva. Nos sentimos ilhados, sem o que fazer, sem como fazer.
O insuportável calor de Ribeirão Preto, que já começou a dar dicas de como será o verão, já indicava a possibilidade de um temporal. Este, que chegou repentinamente, escureceu os céus de um domingo que parecia normal. Domingo, quando o maior shopping center da cidade se enche de pessoas que não tiveram tempo de comprar durante a semana, de grupos de amigos que se renderiam às gorduras trans de um Big Mac, ou casais de namorados que curtem um cineminha no final do dia, para começar a semana com o pé direito. Mas então, o céu desabou, e as luzes do shopping se apagaram! Por cinco segundos não foi possível ver os logos das lojas, nem ao menos o vendedor que se encontrava do outro lado do balcão. Uma euforia quase inédita tomou conta dos consumidores, e dos vendedores, que num reflexo contra o estado de natureza de Hobbes, correram a fechar suas portas. Ainda não se sabe se para evitar o furto de ladrões em potencial, ou se para segurar os clientes e não perderem a comissão das vendas.
Depois de longos 5 segundos, acenderam-se as luzes de emergência. O shopping ficou feio, sem graça, os enfeites do Natal deixaram de brilhar. Sem a eletricidade viva de todos os dias, aquele que é um dos símbolos do capitalismo se mostrou vulnerável às forças da natureza. O Mc Donald´s parou de funcionar, as sessões de cinema água-com-açúcar hollywoodianas foram interrompidas, e os cartões de crédito, naquele momento, não eram úteis. Era o fim do domingo.
Momento de hesitação. O que seria de nosso Natal sem os pisca-piscas? O que seria da Times Square sem seus outdoors eletrônicos? E Paris, sem suas luzes? O que é o homem moderno sem a energia elétrica?
Pode-se dizer, assim, que o homem não é mais um ser iluminado. Somos dependentes da tecnologia, dependemos de um aparelho que há dez anos não existia – o celular – para nos sentirmos sãos e precavidos; dependemos do computador para pensar; dependemos daquilo tudo que criamos: um mundo artificial. A crise dos aeroportos do Brasil está ilustrando o tema deste artigo: amputou a mobilidade de mulheres, homens de negócios, turistas, e colocou milhares de pessoas em desespero. Enquanto as caravelas de Colombo e Cabral demoraram três, quatro meses para chegar ao “novo mundo”, uma espera por um vôo que ultrapassa quarenta minutos parece levar uma eternidade. No café da manhã, se a torrada leva mais de um minuto para ficar pronta, a boca já não segura os xingamentos. Nos tornamos seres sem paciência.
Nossa luz é artificial. E não só a luz. O Natal, caracterizado por renas, Papai Noel, árvores enfeitadas e luminosas, pisca-piscas, trenós, caixas de presentes com grandes laços, nos foi vendido a preços nada baratos pelas grandes potências do Norte. Pois não temos neve, nosso Natal é tropical. Ao invés de botas, nosso Papai Noel deveria usar nossas Havaianas. Ao invés de pinheiros, por que não um coqueiro altivo e enfeitado? E em substituição das renas, um jegue do sertão nordestino? O que seria uma data de celebração do amor, reencontro, união familiar, tempo de reflexão e perdão, nos aparece em formato de consumo: consumo de lâmpadas coloridas, presentes, cheques-especiais, e dívidas para o próspero ano de 2007.
O comércio foi afetado no trágico domingo de tempestade. E o homem moderno é afetado a cada dia que passa, a cada luz que acende, e a cada luz interior que deixa de acender. Desenvolvemos a tecnologia de ponta, mas deixamos esquecidos em um velho baú valores para o desenvolvimento humano. Numa era onde as crianças esperam do Papai Noel um Play Station 3, ou pelo menos o 2, e não compreendem o verdadeiro significado das luzes do Natal, o mais plausível é concordar com Lévi-Strauss.
A encruzilhada do mundo moderno é: ao se render às engenhocas e ideologias modernas, o homem perde; mas ao se fechar ao sistema, deixa de ganhar. O homem criou a luz elétrica, e apagou a luz humana. E quando as garras da natureza novamente colocarem os consumidores desse “mundo shopping center” no escuro? Aí então, salve-se quem puder...

E assim fez-se a luz!

A montanha-russa que teimava em continuar descendo bruscamente, deu uma estabilizada. Depois de 20 protocolos... de muitas lágrimas... depois das ligações simultâneas de todos os envolvidos e de muitos com dó dos envolvidos... depois de até a síndica do prédio se comover com nossa trágica e nunca antes vista história... depois de 6 noites no escuro... de copo quebrado... de muito dinheiro gasto... de banho gelado... de lente perdida... e uma petição jurídica, temos energia!
Como somos dependentes desta maldida! E como a vida tende a caminhar mal quando nos faltam os princípios básicos de sobrevivência. Respiro aliviada com todas as luzes da sala acesas, tentando me livrar da zica dos últimos dias. Não quero falar mais sobre isso. Passou. E espero que ganhemos um bom dinheiro com a indenização. Sim, porque, Eletropaulo, vocês vão pagar por isso!
Enfim... fui na Tribo de Atores. Levei um toco. Mas um toco gostoso... que doeu até o estômago e me colocou fora da órbita mais uma vez, sem saber o que fazer. A agente me perguntou em quantas agências estava. Citei 6, ocultando algumas outras. A Tribo não aceita isso, já que trabalha com exclusividade com atores que querem ser atores e nunca figurantes, já que a Tribo coloca atores em papéis principais em propagandas e na televisão. Ela me abriu os olhos a respeito da figuração: "Páre agora de fazer figuração, seja em novela ou propaganda!". Pediu para que eu tirasse meu material das agências, e escolher apenas 1 ou 2 que valham a pena, já que eu estou em circulação nas mãos de muitos produtores de São Paulo que se perguntarão: mas ela é figurante ou atriz?. Disse para que eu trabalhe com eventos e isso não me queimará no meio, e que a Tribo teria dificuldades em trabalhar comigo desta maneira. Disse que tenho um estilo de mulher brasileira muito interessante e muito procurado, mas que preciso me diferenciar, seja em canto, seja em dança, ou no que for, já que o mercado para mulheres está extremamente concorrido. E que voltamos a nos falar mais para frente. Complicado. Contei a ela sobre minha meta e sobre a necessidade de se ganhar dinheiro. Ela sabia de tudo isso. Agora preciso pensar no que fazer...
Já estou com minha pasta completa para dar entrada no DRT, espero que consiga! E aí será outra história.
Amanhã assistirei à aula de interpretação para tv de Fernando Leal, indicada por uma companheira de workshop. Dependendo, posso me tornar aluna no próximo semestre.
Não sei. Não sei. Não sei.
Sexta estarei em Ribeirão e sábado quebro tudo (hahaha até parece!) na Festa da Lagoa!
Uma boa noite cheia de luz para você! Pelo menos isso agora eu tenho!