quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Transbordando racionalismo

Hoje tomei a pior chuva da minha vida!
Saí de casa, bonitinha, com o cabelo arrumado, rumo a minha aula. Peguei emprestado por precaução o guarda-chuva da minha roommate, quando ela disse: "Não quer levar o maior?". "Não, a chuva parou, nem devo usar...". Doce engano. No que saí de casa, recebi não só as lágrimas de tristeza como também as de alegria de São Pedro e de todos os santos... Mas nisso estava ouvindo minha musiquinha, tentando me abstrair da realidade, tentando manter a calma pois afinal de contas, sou um ser muito racional. Ao chegar no ponto de ônibus, já inteira molhada, com meu pé nadando no sapato, os cabelos todos desgrenhados, esperei, esperei... passaram todos os ônibus possíveis... Edu Chaves... Parque do Engenho... Lapa... Cafundó do Brejo... até que surge o lotado Terminal Princesa Isabel. Respiro. E fico em pé, pingando e suando, durante 40 longos minutos... as janelas todas fechadas porque a água não parava de cair lá fora. Tentei me livrar dos pensamentos mais suicidas... do velho discurso de "eu mereço muito mais" e "não nasci para isso"... quase que desisti, voltei atrás, peguei minhas malas e fugi daqui. Mas, a minha aula é meu único principal compromisso da semana. É minha mais preciosa fonte de aprendizado e aprimoramento. Hoje cheguei à conclusão de que São Paulo tem suas próprias garras e que com elas tenta, por todos os meios, expulsar as pessoas daqui, pois não cabe mais gente, não cabe mais nada: altos preços, trânsito, poluição, filas, stress, chuva, frio, calor, criminalidade, caos. Mas as pessoas demoram anos para entenderem o recado e daqui só saem quando mais velhas, com uma carreira estabilizada e dinheiro no bolso. São Paulo se revoltou, criou suas próprias forças, assim como a natureza dá os sinais para a humanidade neste já vulgar "aquecimento global", assim como as plantas fizeram no péssimo filme Fim dos Tempos, com Mark Wahlberg.
Cheguei possessa, após tomar mais um pouco de chuva... subi direto para o banheiro me enxugar. Mas começamos a aula e a sociabilidade me fez mais simpática. Fiz uma cena bacanérrima com direito até a dança erótica, aquelas cenas de cinema que dá frio na barriga, sabe? Ficou até que legalzinha. Mas ouvi uma crítica que ecoa até agora. Fernando Leal disse que sou muito racional, garota certinha, fazendeira, do interior de São Paulo, educada e contida. E que ter qualidades demais não é bom. A verdadeira beleza está na loucura e na imperfeição. Senão fica tudo muito sem graça. E comecei a pensar... que eu penso demais. Tenho controle demais. Talvez precise parar de respirar um pouco e soltar tudo o que está enjaulado aqui dentro, ser mais selvagem, ser um pouco "porra loca". E por isso... minha dança não foi o que deveria ser. Eu poderia ter me exposto mais ao ridículo, me entregado mais. Mas foi "uma cena digna".
Sim, eu acho que me levo muito a sério. Desde pequena. Todos os dias. Preciso me livrar dessa totalidade apolínea. Como, se toda minha vida busquei esse controle e temperança? Ser atriz requer sensações... e um pouco do vinho de Dionísio cai muito bem.
Hoje um ator do Zorra Total - que inexplicavelmente tenho no MSN - me perguntou como andam as coisas. Paradérrimas, eu respondi. "Não pare", ele retrucou. Amanhã eu paro. Preciso parar. Não sei se minha atitude de pegar o ônibus às 9 da manhã para Ribeirão será à la Apolo ou Dionísio, mas sei que é extrema necessidade. Assim, tchau, São Paulo! Estou pronta para te mandar à PQP durante uma semana ou dez dias, quem sabe...