sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

À mesa

Uma mesa de um gostoso restaurante de São Paulo. As amigas, de idades variadas entre os 20 e 30, colocam o papo em dia, tiram fotos, postam fotos, claro, desabafam vontades, compartilham lembranças, riem, querem saber sobre a gravidez de uma, prometem presentes pro bebê que ainda não deram, comem, bebem e são felizes. As opiniões se divergem, obviamente, são grandes amigas mas não são almas gêmeas, no sentido literal das palavras, mesmo assim, adoram conversar. E como conversam! Sobre tudo: trabalho, peso, filmes, ex's, futuro, cabelo, unhas, viagem... e assim vai. Mas quando o assunto é relacionamento, aí o bicho pega. Aqui política e religião são assuntos livres, mas relacionamentos, os seus e dos outros, ah, esse é um ponto delicado naquela agradável mesa à luz de velas. Três são compromissadas. Uma é solteira. E solteira há alguns anos, diga-se de passagem. E esta, ao escutar "Mas não escolha demais, senão você acaba sozinha!", se remexe na cadeira e parte para a defesa do seu ponto de vista. Tenta dizer que não é uma simples questão de escolha e sim de vontade, aliás, como já dito em capítulos anteriores, antes sozinha do que mal acompanhada. Mas as amigas não pensam bem assim. Uma se esconde atrás de um sorriso apaziguador, outra concorda ora com uma ora com outra, uma aponta o dedo na cara como se soubesse de alguma coisa e esta última chega em casa e vai dormir pensando naquela calorosa discussão. A característica "exigência" faz parte de sua pessoal descrição desde os primórdios. Sempre gostou de boas notas. De fazer bons trabalhos. De casa arrumada. De unhas impecáveis. De boas amizades. De bons filmes. De boa comida, enfim. Se qualidade ou se defeito, cada ocasião faz o ladrão, mas é errado ser exigente quando o assunto é relacionamento? Ela não procura pretendentes, entenda bem, ela costuma acreditar naquele ditado de "quando for pra ser, será". Não os enumera. Não faz tentativas randômicas. Às vezes até se esquece que naquela roda ao lado pode estar o mais novo homem da sua vida, especialmente se a música e/ou as companhias estiverem estupendas. Deveria ela então passar a procurar e parar de acreditar na chance de sem querer, um dia, encontrar? Não ser exigente signifca sair com todos os homens apresentáveis e de boas referências que a chamam para jantar? Significa abrandar a palavra vontade a fim de simplesmente tentar? Ela não acredita que se aprende a gostar. Você simplesmente gosta ou não gosta. E de repente você vê que ama, goste ele de rock ou de samba, seja loiro ou moreno, alto ou de sua altura (mais baixo não dá...), trabalhe ele de gravata ou de chinelo (mas tem que trabalhar!). Ela sonha com características ideias como toda mulher, mas a vontade é inimiga da perfeição, caso contrário não teria sido nunca vítima de se quer um cafajeste. É que, meu amigo, existe uma tal de química que nem seu excelente professor do Ensino Médio seria capaz de explicar... É um tal de a que se mistura com b e entra em ebulição em c e formam o mais louco abecedário... E se não tem química... tem que ser menos exigente... e tentar? Isso é inconcebível. Não existe razão para as coisas feitas pelo coração! Ela prefere ficar sozinha. Se ser exigente é seguir o que a vontade diz, ela continuará exigente. E por enquanto, continua solteira. Homens tem vários. De todos os tipos. Bons, os bonitos e muitos baratos. Mas homem que lhe desperte vontade, seja lá por qual sentido ou fantasia for, conta-se nos dedos. Sair por sair, namorar por namorar, casar porque tem que casar, hum, isso ela não quer. E continuará escutando os mais "experientes" lhe apontarem o dedo assim como aguentará as inúmeras tentativas de encontros arranjados com o primo rico ou o amigo que morava em Portugal, muitos dos quais jamais acontecerão. Ela prefere continuar acreditando no destino, seguindo suas vontades e infelizmente, sem entender essa famigerada química, que simplesmente aparece e tantas vezes, desaparece. Porque, acredite, se houvesse uma fórmula, ela já estaria bem casada e nem precisaria se contorcer à mesa com as amigas. Ela contaria sobre suas noites calientes com o marido, sobre como dividir a mesma cama é delicioso e que sabia que seria feliz para sempre ao lado dele. Mas... Maldita química! E bendita seja ela...