terça-feira, 5 de outubro de 2010

Não sei um título

Voltei hoje para São Paulo, após exercer meu direito e dever de cidadã: votar. Campanha eleitoral é a peça de teatro mais cultuada no mundo. E tem espaço para todos os perfis e isso é que é democracia! Tem boneca de ventríloco, picareta, agressor de mulher, palhaço analfabeto, ladrão, mulher de ladrão, prostituta, dançarina, modelo, ex-jogador de futebol, estilista, ex-BBB... Vale de tudo nesse palco! É a arte pela arte! O gostoso de ser ator é brincar de mentir e ainda ganhar para isso. E o que é ser político? É brincar de fazer e ainda ganhar muito por isso. Alguma diferença?
Quinta-feira assisti de camarote a um fato engraçado - para não dizer trágico. Enquanto saía do Ibirapuera depois de suados quarenta minutos de corrida, ouvi gritos histéricos femininos que superaram a música nos meus ouvidos. Tirei os fones para me inteirar da situação quando de repente vejo, correndo em minha direção, um sujeito de cor parda, vinte e poucos anos, desesperado. Atrás dele, um grupo mais esbaforido ainda, com "sangue nos zóio" que gritava: "Pega ele!". Dei dois passos para trás evitando que fosse levada pelo tornado e dei uma bronca no segurança do parque ao meu lado que só ameaçou agarrar o fugitivo. Mas nem foi preciso... Ao quase ser atropelado pelos carros fulminantes em plenas 18h na Répública do Líbano, ele se rendeu entre um capô e uma árvore. Um olhar assustado já previa o inevitável. Colocou as mãos na cabeça. E a trupe chegou, sedenta por vingança. Deliciosamente - é pecado eu confessar isso? -, ele levou alguns chutes aqui, vários xingamentos ali e eu, privilegiada no melhor assento do camarote... Faltou só minha vodka com energético ou minha pipoca com manteiga - depende de qual V.I.P area estejamos falando... Em questão de dois minutos, chegou a vítima, espumando "Cadê ele? Cadê esse f**** d* p***?". Não fiquei para ver o final. O clímax já tinha sido por demais emocionante. Me senti vingada! E ainda vêm aqueles defender os "párias" do sistema, dizendo que é culpa da falta de oportunidade e de políticas públicas, que é culpa do colonialismo histórico, do capitalismo... É falta de vergonha na cara, isso sim! Bem feito, meu amigo. Às vezes é sim possível concordar com a lei do "olho por olho, dente por dente"...
Neste mesmo dia vivi um impasse. Toca o celular e me oferecem o papel de protagonista de uma simulação no Programa do Gugu. E aí, mais uma vez, veio aquele turbilhão de dúvidas... Não estou com cacife para recusar trabalhos como atriz nessa altura do campeonato, mas e tudo o que venho aprendendo ao longo dos tempos? Errar é humano, mas persistir no erro é burrice! Eu já havia prometido que não faria mais esse tipo de trabalho... Aquela experiência na Estrada do Pau Furado já fora o suficiente para solidificar a ideia de que é preciso sim escolher bem os futuros jobs. Mas e a humildade? E o cachêzinho? E a oportunidade? O material que teria, caso a edição ficasse bacana? Tirei n opiniões, com leigos e entendidos... Meu coração dizia "não" mas a mente se perguntava "por que não?". Até que, ao indagar para um dono de agência de atores se simulações queimavam o currículo e receber uma resposta positiva - "a não ser que o cachê valha a pena..." e não valia -, recusei o convite. E depois acalmei meu espírito. Artisticamente, é uma produção muito pobre... e dar a cara a tapa nacionalmente a qualquer custo ainda não faz parte de minhas ideologias... Peguei minha carona para Ribeirão Preto na sexta-feira às 14h como combinado e não me arrependi um segundo sequer, especialmente depois de assistir ao quadro que foi ao ar já no domingo. E teve ainda beijo na boca! Simulação com beijo na boca, na Record, horário nobre e por aquele cachê ainda?! Não me vendo mais a preço de banana.
Passados alguns dias de muita comilança, vinho com as amigas e filme de exorcismo, hoje aceitei descongelar e voltar aos eventos. Não tive escolha! Amanhã faço uma recepção das 14 às 19h no Hotel Renaissance e quinta-feira volto aos jogos do Palmeiras. O cachê pagará minhas passagens para o feriado na Cidade Maravilhosa e será certamente mais produtivo do que ficar em casa amargando a falta de testes e a espera de trabalhos... Não é?! É.
E vou ficando por aqui...
Sem mais, boa noite!