segunda-feira, 24 de novembro de 2014

O coração

Eu sou dessas que acreditam que nada é por acaso. Que tudo está, de uma maneira ou de outra, interligado. Coincidências são obra do destino e que o destino está escrito - apesar de que em várias formas: de livros, poemas, pichações, enigmas, parábolas, hieróglifos, tudo junto e misturado. Eu gosto de achar aprendizado nas coisas, nas pessoas e nos próprios erros. Acho que isso me ajuda a enxergar a vida de maneira mais leve. Se é verdade, eu não sei, mas eu gosto de procurar esse tipo de conexão, acho que me ajuda a compreender - ou pelo menos a fingir que compreendo - o mundo e suas sandices. Há uns dois meses resolvi me dar uma jóia de presente. Nada ostensivo, nada chamativo, nada de nada. Era pra mim, porque eu queria há muito tempo e eu merecia: uma correntinha de 60cm com um pingente de coração, significando, talvez, a crença no amor. Mentira, na verdade, porque era o pingente que mais combinava com a outra corrente de 40cm que já uso há anos... Com menos de uma semana de uso, minha cachorra me deu uma patada e arrebentou minha correntinha. Fiquei brava, confesso. Foi a única vez que senti raiva da Preta. Mas, "pára com isso!", respirei e em uma hora eu já amava aquele cachorro lindo e preto de novo. Voltei ao shopping na semana seguinte e pedi que me ajudassem, já que ainda estava na garantia. Me deram uma nova. Ufa. Aí, três semanas atrás, enquanto eu desembaraçava os fios das duas correntes, a bendita arrebentou mais uma vez. Ódio. Aí você já pensa em olho gordo, encosto e o escambau. Mas aquele domingo já havia sido tão ruim que minha correntinha arrebentar pela segunda vez era apenas um adendo... Voltei ao shopping dia seguinte e falei que desta vez, a culpa não foi de ninguém. Foi do além! Me prometeram que teria uma nova em uma semana. Assim, voltei para casa aliviada e pré-disposta a tomar um banho de sal grosso e assim fiz. Deixei na cesta de madeira sobre minha mesa a correntinha arrebentada no saquinho e ao lado o meu pingente e passei uma semana desejando tê-los novamente em meu pescoço. Na quinta-feira seguinte, chamei minha faxineira, a casa pedia! Na sexta-feira, feliz e contente, peguei a correntinha arrebentada para a troca e cadê o pingente? Calma, ele está na cesta. Não, ele não estava na cesta! Não estava no meio das contas de celular a pagar. Não estava entre as arestas. Nem no meio do laço. Onde estava meu pingente? Respirei. E liguei para minha faxineira. Sim, ela havia limpado a cesta. E não viu nenhum pingente e não podia falar naquele momento. Comecei a engatinhar pela casa. Nada. Arrastei o sofá. Nada. Pensei: "se ela limpou com pano, pode ter batido o pano na janela da cozinha antes de ter posto os panos sujos na máquina!". Desci e fiquei que nem uma louca procurando no térreo do prédio. No meio do jardim. Nada. Subi e chorei. Chorei igual a uma criança. Não era possível que ela havia jogado o meu coração fora! Nunca desconfiei da Rose, apesar das falas suspeitas de quem ouvia a minha história. Foi um caso de pura desatenção. Chorei de novo. Eu estava ainda na segunda prestação do meu coração... E por descuido, ele havia sumido. Não estava entre os vãos da máquina. Nem embaixo dela. Fui ao shopping com a maior cara de enterro, peguei a correntinha completamente incrédula com o ocorrido, contei a tragédia para a vendedora e cheguei à conclusão de que esta correntinha não era pra ser minha. Certas coisas na vida simplesmente não são para ser... Nem tive vontade de procurar um novo pingente. O meu coração era o mais lindo e o que escolhi para mim. Voltei para casa pensando em colocar a bendita na OLX. No final de semana fui para o interior, estive em dois shoppings e tive zero vontade de procurar um novo pingente, até porque restava uma esperança moribunda de um dia ainda encontrar aquele coração de brilhante. Quando voltei para São Paulo, aproveitei que estava estava de calças e resolvi engatinhar uma última vez pelo apartamento. Olhei nas frestas do assoalho, dos rodapés, sofá, banheiro, pia, debaixo da geladeira, tudo, e nada. Aí avistei uma coisinha debaixo do fogão, em meio a pipocas há séculos estouradas e pó jamais recolhidos. Era o meu coração! Em meio à sujeira debaixo do meu fogão. Obrigada, meu Deus! Dei os meus 200 pulinhos prometidos a São Longuinho, abençoei a minha jóia novamente colocada no pescoço e conversamos, felizes por nos reencontrarmos, jurando amor eterno enquanto durar. "Tá, Stella, onde você quer chegar com essa baboseira toda?". Calma, senhor leitor. Com isso aprendi - ou inventei - n lições. Primeira: nunca desista, a esperança é a última que morre. Segunda: o que é seu, será seu na hora que tiver que ser. Terceira: paciência - porque eu poderia ter sido imediatista e ter comprado um novo pingente e morrer com dois na mão. Quarta: mesmo que seu coração esteja partido ou preenchido por lixo e sujeira, ele poderá ser resgatado e colocado de volta onde ele merece. Quinto: procurar sempre. Nada bate a sua porta. Nada cai do céu - fora chuva, aviões e dejetos de animais voadores. Sexto: meu coração continua sendo meu, eu escolhi, eu paguei, eu perdi, eu encontrei. Quem manda aqui sou eu, coração. Você pode até tentar me ludibriar, mas você é meu e dentro dele - ou ao lado - eu não quero mais lixo e sujeira. Eu quero você, aqui dentro do meu peito, lindo, leve e solto para um dia amar novamente. Sim, eu sou dessas que acreditam que nada é em vão...

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Mais uma vez...

Olha, modéstia a parte, eu sou boa na maioria das coisas que faço. Para começar, eu tenho um bom coração. Sou uma boa filha. Sou boa amiga - apesar de odiar telefonemas... Sou boa cozinheira - mesmo não tendo praticado esta arte nos últimos tempos... Sempre fui ótima aluna, admirada pelos professores e até odiada por alguns coleguinhas. Me formei numa boa faculdade. Sou boa profissional - inclusive, acabei de gravar um comercial com Malvino Salvador em Salvador, papo para um outro post que provavelmente jamais será escrito e por isso, segue foto. Tenho ótimo gosto para música e filmes. Leio bons livros - talvez não com a voracidade que deveria mas leio... Escrevo bem - pelo menos é o que dizem. Fui uma boa jogadora de vôlei ao longo de anos - ganhei até medalha de melhor levantadora em um campeonato regional! Sou boa no volante - tirando a última ralada no carro da mamis na garagem do prédio... Falo inglês muito bem - sinal de que os milhares de dólares gastos no Canadá não foram em vão! Tenho um bom jogo de cintura. Sou boa de cama - bom, pelo menos acredito que seja, né... Sou boa em comunicação - e por isso trabalho com o que trabalho. E muitas otras cositas más. No entanto, tem uma coisa que eu sempre fui péssima e não há como e quem negar: homens. Minha primeira paixão de criança foi um amiguinho de classe, que hoje é um grande amigo e gay assumido. Começava ali a minha tragédia. Não estou aqui para fazer uma trajetória das minhas escolhas mal sucedidas e nem citar nomes de ninguém, fiquem tranquilos, meus poucos ex-queridos. Estou aqui para escancarar meu cansaço perante esse bando de homem confuso, mal resolvido e bobo por aí. E olha que já passei por algumas faixas etárias. Os de 25, idiotas. Os de 35, lamentáveis. Os de 40, piores ainda. Aí eu cheguei à conclusão de que o problema não são eles, sou eu! Só pode ser! Nesses meus 28 anos e meio de vida, eu dei uma bola dentro. Uma! Relacionamento este que acabou mas foi lindo enquanto durou... E olha que eu não peço muito... Não exijo homens altos, morenos e sensuais, apesar de às vezes os ter conseguido. Não exijo uma carteira gorda. Ou viagens internacionais. Nunca pedi um carro. O máximo que ganhei foi um ar condicionado - que está sendo, inclusive, de grande valia nesses últimos dias. Não exijo poetas, magnatas, estrelas. Eu procuro alguém que queira o mesmo que eu e que me faça feliz. Simples assim. Eu queria ter um relacionamento normal, já que minha vida já é tão diferente. Dispenso as grandes emoções agora, eu queria apenas uma tranquilidade e confiança mútua. Será que é pedir muito? Já sei que terá muita gente que vai me dizer "calma, você ainda é nova!". Mas tem uma pergunta que eu nunca consegui responder: "Como você, tão linda e morando em São Paulo, não achou ninguém?". Pois é. Também gostaria de saber - e obrigada pelo linda, by the way. Obviamente tem muita água para passar debaixo dessa ponte. Mas olha, que preguiça de esperar... Aí pensei: "vou pegar um cachorro, porque isso sim é amor incondicional!". Mas aí me lembro da minha falecida poodle que deixou um buraco eterno no meu peito quando partiu. Cães são amor com prazo de validade de no máximo, 17 anos. O resto é saudade. Eu queria aquele eterno, sabe, daqueles que a velhinha morre apenas horas depois que o velhinho se vai?! Mas esse amor para sempre, só saberemos depois da morte, se é que existe vida depois dela. Até lá não dá pra saber. Não, na verdade, não quero a eternidade. Só quero alguém pra saltar de páraquedas comigo, que debata os episódios de The Walking Dead... Alguém que frite pipoca e assista Game Of Thrones do meu lado. Alguém que dê risada da vida. E que tenha certeza, pelo menos naquele instante, de que aquilo será eterno enquanto durar. E o pior é que disso tudo, o máximo que consigo tirar é inspiração para escrever um bom texto num blog que ninguém lê e que está mais parado que água de poço. Talvez ter crescido sem a figura de meu pai e de avôs e odiando meu padrasto - que hoje amo - até os 13 anos me faça falta para compreender esses bichos burros soltos por aí. Eu não entendo o jogo que eles fazem e para falar a verdade, nem pretendo jogá-lo. Jogo, no máximo, eu topo um Imagem & Ação na praia ou um Perguntados nas horas vagas pelo celular. E só. E já que nunca teremos tudo na vida... Bom, então opto por ter um papel na novela das nove, ou encabeçar um programa de televisão, com muita saúde, minhas lindas amigas e minha família do lado. O amor eu deixo pra uma próxima. Ele eu deixo pra você que tem o dom, pra você que leva uma vida normal, que posta foto das duas taças de vinho na varanda de casa e planeja os próximos passos de sua família feliz de margarina. Cheguei à conclusão que a normalidade, definitivamente, não é para mim.