quinta-feira, 16 de junho de 2011

Feirão no Arraiá do Auto Shopping Cristal

Crescendo e aprendendo

Em outubro de 2008 fiz meu primeiro workshop de televisão. Ainda era carne nova no teatro em Ribeirão Preto, apesar de já quatro peças no breve currículo. Mas eu já sabia o que queria ser da minha vida e estava só esperando o momento de pegar o meu diploma de bacharel em Relações Internacionais para guardá-lo no armário e vir tentar a sorte em São Paulo. O diretor era Roberto Jabor - com uma bagagem interessante e engraçadíssimo, por sinal - e ainda contamos com um bate-papo com um ex-galã da Malhação. Cheguei lá achando que fazer TV era fácil. Com os sete textos pré-enviados pela produção na ponta da língua, não tinha como ir mal. Mas teve como ir pessimamente mal! Foram um sábado e um domingo de esmagar o ego. Meu rosto redondo na câmera... Minha voz ainda me era tão estranha... A atuação? Eu parecia um pavão! Mexe daqui, mexe dali, levanta sobrancelha, gesticulava demais... Eu tinha pressa. Não respirava. E tinham tantas meninas lindas que ele elogiou... Levei muita bronca. Nenhum elogio. No primeiro dia saí arrasada. Meu ex-namorado na época foi me buscar e quando entrei no carro, desabei litros das lágrimas mais salgadas. "Eu não sirvo pra isso... Eu sou uma péssima atriz...", dizia aos prantos. Naquele momento eu me perguntava: "O que vou fazer agora?", já que até então acreditava que havia encontrado minha luz no fim do túnel mas de repente meu talento parecia não existir e eu não tinha um plano C. Ele me consolou, como tantas vezes fez ao longo de quatro lindos e frustrados anos, disse que eu estava exagerando e não sei mais o quê. Dormi triste. Mas ainda tinha o domingo! Era a chance de me redimir. E consegui uma cena boa que me fez respirar e acreditar que não, eu não era tão ruim assim... 2009. Malas prontas rumo à capital. Cheguei com sede ao pote, achando que as coisas poderiam acontecer num piscar de olhos, acreditando em scouters que me parariam na rua, em elogios frenéticos que prometem um papel na próxima novela das nove, em uma mudança no segundo semestre para o Rio de Janeiro - "onde tudo acontece!"... Meu primeiro curso aqui foi Fátima Toledo, que não me ajudou a solucionar meus problemas de atuação mas que me deu um chacoalhão e me fez abominar para sempre um tal de kundalini. Comecei o curso pré-profissionalizante de teatro no INDAC e tudo ia muito bem. Na ânsia de me apresentar para a mídia, enviei loucamente meu material - ainda pobre... - para um mailing interessante que havia conseguido por aí, e certamente uma tal de Valéria estava ali no meio. Por telefone num fim de tarde, ela encheu minha bola, disse que eu tinha atitude, um tipo físico interessante, bem brasileiro, uma carga de estudos muito bacana e que haveria testes para a próxima novela de Manoel Carlos. "Você teria como mudar para o Rio?". O prazo seria agosto. Mas para isso, precisaríamos gravar este monólogo com urgência já que em três dias ele deveria ser posto no Correio. "Você tem com quem gravar?" e obviamente eu não tinha. "Podemos fazer aqui no nosso estúdio, pelo valor de 145 reais.". Ótimo! Prático, não? Um texto me foi enviado por e-mail e cheguei em seu pequeno apartamento no Anhangabaú - era minha primeira vez no Centro de São Paulo - para gravarmos. Já passava das quatro da tarde. Conversamos. Ela me mostrou um e-mail desse tal de Luciano Sabino - que inclusive, viria em duas semanas dar um workshop em São Paulo - onde ele pedia os perfis que faltavam para a próxima novela. Não me esqueço da frase do fajuto e-mail que dizia: "Não queremos boi-de-piranha!", que a princípio não entendi, mas Valéria me explicou que não queriam carinhas conhecidas da televisão nem da publicidade. Até então meus únicos trabalhos na TV tinham sido no interior: propaganda da minha escola em 2001, propaganda do Shopping do Calçado de Franca em 2008 e um programa de esportes no canal local que não foi para a frente chamado Sport & Ação. Eu não era boi-de-piranha! Fomos então gravar o dvd book. Depois de gravarmos, me sentei no sofá e ela tinha lágrimas nos olhos. Sua filha de dez anos estava do lado. Ela me disse que eu era boa, para não desistir nunca, que eu tinha chance. Agradeci. Ela ficou de ligar caso tivesse novidades. E hoje vi como foi ridículo. Ainda bem que não mostrei aquilo para ninguém, nem nunca desovei as duas cópias que ainda me restam. Eu me apresentava "Olá, sou Stella Freitas, tenho 23 anos..." e dali já emendava no monólogo, falando diretamente para a câmera. É de doer! Além de que eu ainda não conhecia o poder de um corretivo, ainda carregava minha sobrancelha horrorosa, pesava uns cinco quilos a mais, não negava as raízes com o "r" do interior... 145 reais na lata por um dvd que certamente nunca saiu da gaveta daqueles picaretas... O sonho naquele momento me parecia tão perto e surreal! Ela nunca me deu um retorno sobre os futuros testes. Maio. Foi quando enviei minhas fotos para o produtor de uma outra grande emissora no Rio de Janeiro e fui lá fazer besteira na frente da câmera. Eu não estava preparada. Dias depois, fazia meu segundo workshop de TV da vida, agora com Luciano Sabino. Foi ali que descobri que não era bem assim, que era preciso muita calma nessa hora e que existia um cara chamado Fernando Leal. E lá se foi um ano e meio para conseguir entender mais ou menos o que é essa tal de televisão... É... Tempos depois descobri que essa mulher ilude muitos atores afobados, que logo se mudam para a capital carioca e moram em péssimas condições para serem figurantes de novela, ansiando o papel tão prometido. E nesse meio tempo fui parada sim no metrô por uma scouter, lembra? Mas de uma agência de modelos que tudo que queria era me vender R$280,00 em composite... Mas ainda bem que o tempo passa! E ainda bem que esse tempo me foi tão útil... Hoje tenho no currículo o elogio recente do mesmo Luciano Sabino - que riu em 2009 e disse nunca ter ouvido falar nessa tal de Valéria e muito menos na expressão "boi-de-piranha" - dizendo que meu monólogo foi "arrebatador". Hoje tenho meu cadastro na emissora prometida, direitinho, sem picaretagem nem grana envolvida. Mas tudo valeu a pena. Os tropeços, o dinheiro perdido, as lágrimas, as dúvidas, o medo, a pressa, a calma, a descoberta da paciência. Isso daqui não é uma corrida de cem metros, meu amigo, é uma maratona. E continuo correndo. Tem tanta coisa para eu aprender ainda...