terça-feira, 18 de junho de 2013

17 de junho de 2013

Em 11 de setembro de 2001, tive minha atenção completamente roubada logo pela manhã e quem disse que ao longo do dia eu conseguia desligar a televisão e ir estudar para as provas, que no meu primeiro colegial (não tinha essa coisa de Ensino Médio ainda...) aconteciam todas as quartas-feiras? Eu sabia que estava assistindo a um epísódio que mudaria a História. Essa data minha geração jamais esquecerá. Anos depois, em 13 de junho de 2013, data que não sabia de cor e precisei olhar no calendário, confesso, fui contaminada por um comichão que me tirou a tranquilidade ao saber que amigos estavam fazendo parte das manifestações na cidade de São Paulo levando bala de borracha enquanto eu tomava vinho num chiquetoso restaurante do Itaim. Tentei desabafar minha frustração e meu sentimento de impotência, até porque durante cinco anos de faculdade, nunca levantei bandeira nenhuma e apesar de ser, talvez, a pessoa mais infeliz com aquele ensino público, eu nunca peguei em armas, nem materiais nem ideológicas. Eu gostava de criticar. E criticava muito. E fazia nada. E hoje, 17 de junho de 2013, data que ainda não sei se ficará tão estigmatizada quanto o famigerado 11 de setembro, eu tenho certeza que presenciei um outro episódio histórico. Só que desta vez, nós éramos os protagonistas. As redes sociais fizeram possível uma mobilização incalculável e desta vez, não tinha como não participar. Mesmo estando exausta depois de dois jobs nesta Segunda-feira Branca, ao chegar em casa liguei a televisão e acompanhei as atualiações e notícias via Facebook e Instagram. O comichão ressuscitou, contactei amigos que já estavam no Largo da Batata, pensei em ir até lá para encontrá-los - missão impossível -, aí tentei angariar companheiros - tentativas falhas, diga-se de passagem como: "Vamos na manifestação?" e tive como resposta: "Se tiver camarote eu vou!". Aí quase desisti. Minha madrinha disse: "Vá na próxima!", amigas diziam: "Louca!"... Aí coloquei o meu top de ginástica, numa tentativa de animação para subir até o Ibirapuera. Mas pera aí! Milhares de pessoas se manifestando contra os abusos nojentos desse governo bastardo e eu ia correr? Negativo. De olho no Cidade Alerta e nas atualizações do Facebook, descobri que manifestantes percorriam a Faria Lima. Depois que estavam no cruzamento com a Rebouças. Ah! Estavam muito perto! Calcei minhas galochas e desci para as ruas, recebendo a notícia de que naquele exato momento o movimento estava na esquina com a minha rua! Comecei a correr os quatro quarteirões rumo à avenida e fui alertada: "Mocinha, não vá por aí! A Faria Lima está perigosíssima por causa da manifestação!" e eu respondi: "Mas é pra lá que vou!". E fui. E então presenciei uma das coisas mais lindas: uma multidão infinita, completamente pacífica, com um senso de humor delicioso e uma ironia inofensiva. Eu estava sozinha mas compartilhava daquela indignação. 20 centavos foram o estopim. Esse país é muito errado! E com um olhar de criança curiosa e maravilhado, como se visse o Natal pela primeira vez, o povo saiu às ruas e nem era Carnaval. Andamos quilômetros e quilômetros rumo a não sei o quê mas querendo muita coisa. Era muita gente. Muita gente! E caminhei sozinha, tentando captar o máximo que aquele momento me mostrava. Eu tinha vontade de conversar com pessoas e até me intrometi em papos paralelos, especialmente porque há pouco eu estava ligada na tv e portava informações que aquelas pessoas sem sinal 3G não tinham a mínima ideia. Ao quase chegar à Ponte Estaiada, resolvi dar meia volta. A boca já começava a secar e os pés a doer, apesar de eu querer ir até o fim, mesmo sabendo que este é apenas o começo. Hoje eu não mudei o mundo. Aliás, minha presença ali foi insignificante. Eu era como agulha no palheiro. Ínfima. Mas eu presenciei a História. Eu presenciei a minha História e a História desse Brasil varonil, tão jovem mas tão disposto a lavar a sujeirada que a corja governante nos joga. Já posso ver as próximas gerações estudando esse Outono Brasileiro... E espero ver que as folhas secas que cairão ao longo das estações deem lugar às mais ricas flores. A gente não quer só comida, diversão e água. A nossa gente merece muito, muito, muito mais! O recado tá dado. Hoje foi mais emocionante que a final da Copa de 94, pode acreditar!