quarta-feira, 19 de junho de 2013

24 horas

Ainda não sei se este post terá as quase 60 curtidas que o post de ontem alcançou. Provavelmente não. Também não sei qual é a linha tênue que divide o realismo do pessimismo. Talvez eu a atravesse agora. Só não sei se pra lá ou pra cá. Vamos lá! Ontem dormi em êxtase. Aquela sensação foi revigorante, as redes sociais pela manhã eram entusiastas, a mídia - antes inimiga da "revolução" - virou a casaca e os jornais só falavam disso, diferente do último Fantástico, que disse que faria uma edição especial sobre a Copa das Confederações enquanto as manifestações que já abalavam o país, mereceram cinco minutinhos numa reportagem bem compacta e nada imparcial. À tarde, amigos já seguiam para a Praça da Sé e eu ainda não estava certa sobre ir ou não ir pras ruas hoje. Assisti ao Cidade Alerta e aquele fuzuê todo na Prefeitura de São Paulo. Bombas, balas, feridos, vidros estilhaçados, um bombadinho de camisa branca querendo roubar a cena, alguns poucos baderneiros enquanto o resto das 50 mil pessoas continuavam a cantar por um país melhor. Estava decidido que para o Centro eu não iria. Duas amigas que ontem não quiseram me acompanhar por medo, seguiam para a Paulista. Mais uma vez me segurei com receio de não encontrá-las e ficar novamente sozinha na manifestação. Foi quando um amigo, que escuta meus anseios mais do que ninguém, e os escutou especialmente desde quinta-feira passada, me chamou para ir para a avenida. E fomos. Subimos do Itaim até o coração econômico de São Paulo, a pé, e eu relatava com entusiasmo o que havia já contado para ele ontem por telefone. Quando chegamos na Avenida Paulista, a multidão já estava dispersa mas continuamos procurando algo que se assemelhasse à fantástica jornada do 17 de junho de 2013. Não tinha nada a ver. A revolta pacífica tinha virado festa. Manifestar virou moda. E quando a coisa se banaliza... Che Guevara vira camiseta de grife e estampa de biquini. O cheiro de maconha nos acompanhou ao longo da nossa quase uma hora naquilo que mais parecia uma baladinha. Galera com cachorro... (nada contra cachorros, os amo de coração!)... Mulheres com jaqueta de couro, lenço de seda de oncinha e botas de salto tirando foto enroladas na bandeira brasileia fazendo um "V" tipo Gisele para postar no Facebook... Ok, quem sou eu para falar de foto e salto e jaquetas de couro... Mas minha indignação atingiu o cume quando vi grupinhos - e vários! - tomando cerveja e dando risada. Skol, Brahma, Budweiser. A paquera rolava solta! Ambulantes vendiam até chopp de vinho! Fora os hippies comercializando seus artesanatos e bijuterias. Era um grande Happy Hour na Paulista! Ê, que beleza! Tudo parecia um grande teatro. A ironia virou clichê. E a paz virou conflito lá no Centro. Talvez eu tenha presenciado apenas o que seria o fim da festa, sabe, quando bêbados te agarram pelo braço porque não podem "zerar" na balada? Talvez tenha sido isso... A verdade é que eu nem deveria ter saído de casa... A sensação de ontem era muito mais animadora... Quem sou eu para dizer, sou apenas uma atriz formada em Relações Inernacionais buscando seu lugar ao sol, mas diria que a manifestação sente falta de um foco, não tem um mártir, não tem um objetivo concreto. Estávamos ontem Rio, São Paulo, BH, Brasília reinvindicando contra toda a sujeira. Mas a sujeira é tão grande, tão asquerosa e o buraco tão mais profundo que corremos o risco de perder a força. Porque o exército hoje perdeu um soldado. Talvez me julguem "pelega", mas tudo bem, já era pelega na faculdade mesmo... Continuo sim a acreditar na beleza da democracia e na força de vontade dos milhões de jovens Brasil afora. Mas agora me bateu aquele pessimismo (ou seria realismo? ou seria conformismo?) de que, se as coisas mudarem, hoje ou em um dia distante, não será porque nós quisemos. E sim porque eles quiseram. Talvez cabeças devessem rolar. Mas nos faltam um Robespierre e um lema à la Liberdade, Igualdade, Frateridade de Rousseau. Eu espero que esteja errada. Boa noite!