Assim que mudei para São Paulo, um amigo de infância me alertou: "Cuidado para não ser engolida pela cidade...". Na hora não entendi muito bem o que ele queria dizer, mas confesso que estou começando a entender. Quando se inicia o processo de fagocitose, eu recebo uns tapas que me ajudam a acordar e a me soltar das garras da selva de pedra.
Conversei com a pessoa que disse que poderia me ajudar em muitas coisas. De fato, nada aconteceu, mas ela já me ajudou, e muito. Eu sabia que ele se comoveria com minha situação, já que sua filha também optou pelo tortuoso caminho das artes, mas infelizmente, não vingou, além de entender o desespero de alunos e recém-formados, já que também é professor universitário. Ele me viu como uma menina muito nova ainda, determinada, de mente aberta e com culhões para renunciar à prática do meu diploma. E em uma hora de bate-papo, encerramos dizendo que no final tudo dá certo, basta querer. E tanto ele quanto eu sabemos que eu quero, quero muito. Ele disse para eu não perder meu tempo em algum escritório ou em um emprego qualquer, mesmo sabendo que todos nós temos nossas necessidades, e que jamais devemos nos arrepender do que fizemos, porque de tudo tiramos aprendizados que engordarão nossas bagagens de vida, mas devemos sim nos arrepender daquilo que deixamos de fazer. Eu disse que esse era meu objetivo: não me frustrar de não ter tentado. Mas o tempo vale muito aqui na capital e o relógio não pára. Tic-tac, tic-tac. Se propôs a me ajudar no que ele puder, mesmo estando nós dois em áreas nada compatíveis.
Tive vontade de chorar ali no escritório, com tantos livros de Direito me cercando, com o ar condicionado gostoso que acalmava meu calor, com a calma e a disposição que ele se prestou a me dar.
No caminho, conheci a estação Sumaré... vi onde é o Cemitério do Araçá... conheci a Avenida Dr. Arnaldo, e de lá tive uma vista linda da cidade, tanto na esquerda quanto na direita, e assumo que São Paulo continua a ter seu brilho.
No metrô, vim observando as pessoas... algumas, tão acostumadas a serem ninguém no meio da multidão, se sentem como que acolhidas com um simples olhar... algumas se incomodam e olham para o outro lado. Não posso deixar de enxergar as pessoas, não posso me deixar guiar pelo piloto automático. E admito que meu prazer é a minha trilha sonora que me acompanha para cada canto... é como se estivesse no seriado Alice da HBO (você assistiu?), mas esse seriado tem outro nome: Stella.
Na vida, nós somos os protagonistas. Para ser figurante, só como bico e para aumentar o networking, não como caminho a ser seguido. Não posso deixar que São Paulo perca seu brilho... Não posso deixar que São Paulo perca o brilho que eu sempre enxerguei...
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