quarta-feira, 12 de março de 2014
Zumbis e fantasmas
Às terças-feiras quem me fazem companhia são os zumbis da FOX. Eu quase nunca resisto a estourar uma panelinha de pipoca e esticar o meu sofá-cama de frente à tv. Mas tem uma ideia fantasma que me ronda sem data nem horário marcado, uma companhia indesejada mas que de vez em quando, perambula por todos os meus canais. Na verdade ela está mais para um zumbi, já que tantas vezes a mato mas ela insiste em voltar. O meu tiro certeiro deveria ser na cabeça, mas da cabeça nem sempre ela sai: o fracasso. Eis o meu fantasma. O meu medo. O meu zumbi. O meu Jason. O meu aborrecimento. Essa carreira é feita de altos e baixos, todos sabemos... Quantas vezes gastei linhas e linhas do blog sobre a montanha-russa que vivo desde 2009... Sobe e desce. Roda. Looping. Sobe. Looping outra vez. Desce... Não necessariamente nesta ordem. Ontem estávamos eu e mais uns trinta e tantos à espera de mais um teste. Homens, mulheres, atores, modelos, meninas, brancos, mulatos, negros, japononeses, todos esperando os dois minutos frente à câmera para provar que sabemos alguma coisa ou que simplesmente somos fotogênicos ou que sei lá, somos o perfil que o cliente procura. A luta diária dos atores sofredores para garantir o aluguel e mais algumas continhas do mês. Estava já com minha claquete em mãos escutando conversas, participando de algumas delas quando escutei de um homem, se ator não sei, figurante tenho certeza: "...isto aqui é bobeira... É um trabalho que não tem futuro. Serve apenas para ganhar um dinheirinho. É bom para quem está fazendo nada...". Me intrometi, tirei minhas facas dos bolsos e defendi a classe operária: "Pera aí... Não é bem assim. Não tem futuro? Eu espero ter um futuro fazendo o que eu faço.". Ele respondeu: "Há quanto tempo você está nesse meio?". Respondi. Ele: "É, espero que você tenha sucesso...". Eu também! E fui embora com esse fantasminha nada camarada me atormentando... Gente, isto aqui não é uma brincadeira. Ou é? Eu levo tudo muito a sério. É meu ganha pão. É minha trajetória. É minha felicidade. É meu sonho. Eu não estou aqui para ganhar um dinheirinho. Eu estou aqui para exercer a minha profissão, seja na publicidade, na televisão, no cinema, no teatro ou numa casinha de sapê. Se não dá certo para ele, desculpa, que pena, mas não generalize, meu senhor! Seu problema pode ser de foco, de talento, beleza, fotogenia, de perfil e/ou de n outras coisas imensuráveis das quais jamais saberemos... Mas para mim, dá certo. Pelo menos é o que parece. Aí vemos atores desesperados procurando outros meios, vendendo óculos com armação de madeira, confeccionando cupcakes, fazendo eventos ou largando tudo e virando assalariados. Eu mesma já falei tantas vezes que jogaria tudo para o alto e colocaria uma poltrona na Praça da Sé para modelar a sobrancelha da mulherada... A necessidade leva o homem à evolução, mas essa mesma necessidade não me levará a prostituição de minha imagem e de meu esforço. Peço apenas respeito e consideração ao meu trabalho e ao meu bem estar. E não jogue areia na minha alegria. Sou atriz e ponto! Meu DRT pode não significar muita coisa mas simboliza o meu esforço ao tentar dizer que isto não é passatempo, é profissão. Me tratem com seriedade e saibam que, me tratando com dignidade, terão o meu respeito e minha admiração. Acendi uma vela para meu anjo da guarda. Mamãe disse que sou guerreira e que é impossível que alguém lá de cima não me proteja. Eu vou continuar acreditando. Lutando. Trabalhando. Eu não quero sobreviver. Eu quero crescer nisso e viver disso. E eu não vou fracassar. É que as vezes bate um cansaço... Mas o segredo é sempre respirar bem fundo sabendo que depois da tempestade, sempre vem a bonança. Venha, bonança, estou de braços abertos esperando por você!
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