How bizarre... how bizarre...
Estávamos nós, em dois carros, a caminho da festa do Branco do Sirena em pleno sábado a 1:15am. O amigo-motorista do carro onde eu estava se enganou sobre o caminho, e passamos por uma área não muito bem vista em Ribeirão, especialmente pela Polícia. De cada 10 carros que por ali passam, 8 estão para comprar drogas (estatística fornecida pelo policial), o que obviamente não era nosso caso. Foi apenas um erro na rota, que isso fique em claro.
Fomos parados por alguns policiais, um deles com uma metralhadora na mão! Sabe aquele segundo onde milhares de medos e dúvidas pairam sobre sua cabeça? E o pensamento de "Oh, fuck!" lhe vem à mente? Então. Aquilo parecia cena de filme...
Nos mandaram descer do carro e os meninos colocarem mão na cabeça, e logo em seguida foram revistados como suspeitos de algo que nem nós sabíamos. Os carros foram revistados, porta-luvas, porta-malas...
O meu amigo-motorista já logo apresentou sua carteirinha da OAB e alertou o policial de que no porta-malas ele encontraria apenas livros de Direito, já que estuda para concurso público para vaga de delegado. Ponto pra ele!
Mas eu tinha vontade de rir... aquilo me parecia tão idiota, pois com tantos bandidos, ladrões, caras-de-pau soltos por aí, nós éramos os suspeitos daquela noite, sendo que éramos ali meros advogado, personal trainer, aspirante à atriz e apresentadora, farmacêutica, administrador...
Por azar, a placa do carro de nosso outro amigo estava um tanto quanto apagada, e logo o seu Polícia disse que guincharia o veículo. Aquilo caiu como uma pedra sobre nós, miaria nossa festa, o amigo teria que pagar multa, tudo iria demorar demais, perderíamos a noite e a paciência por algo tão trivial.
Mas aí então, o desespero nos faz criativos e batalhadores. Usamos todas as armas possíveis, charminho, simpatia, piadas, lamentações, contatos na Polícia, uma quase tentativa de suborno... Eu, muito simpática, já programando minha próxima postagem do blog, cheguei de mansinho e perguntei para o chefe: "Posso lhe fazer uma perguntinha, de curiosidade? Que arma é essa?". "É uma metralhadora." ele respondeu. Ok. "Moço, eu te garanto que nosso amigo vai pintar a placa na segunda-feira, mas por favor não nos deixe perder a balada, todo mundo aqui é recém-solteiro, o coitado ali acabou de separar da esposa depois de 5 anos de casamento..." eu disse, e era quase tudo verdade, já que sou recém-solteira há 7 meses... minha irmã há mais de ano... mas tudo bem, o propósito valeu...
"Moço, você conhece o Tenente-Coronel X? Pois é, meu tio..." minha irmã disse... Aliás, ela foi a vencedora de pérolas da noite, todas muito bem interpretadas pelas autoridades. "Moço, enquanto você segura a gente aqui, eu poderia estar encontrando meu príncipe encantado na balada..." ela completou brilhantemente.
Simpatias, piadinhas, reclamações e muitas risadas depois, ele resolveu nos liberar. Seguimos nosso destino gargalhando e reconstruindo os minutos da cena, e constatamos ter sido aquele episódio histórico para cada um de nós.
Jamais havia sido parada pela Polícia. Apenas no aeroporto de Toronto, quando pediram que eu tirasse os sapatos ao passar pelo detector de metais. Me sinti humilhada descalça no chão frio do aeroporto canadense...
Mas é engraçado... eles estavam fazendo o trabalho deles, tudo bem... mas nós não estávamos fazendo nada. Nada. E suspeitarem de você quando você nada fez é uma sensação terrível, não é? Ainda mais quando autoridades suspeitas suspeitam de você em um país tão suspeito como o nosso.
Aqueles 20, 25 minutos poderiam ter sido melhor aproveitados em prol da segurança municipal, mas ficarão registrados na memória dos 6 inocentes presentes no lugar errado e na hora errada. Tudo a gente pode espremer e tirar um suco saboroso. Adoro ter histórias para contar, e essa será uma delas. A noite foi "incrível", como diria nosso amigo paulistano autor da tentativa de suborno e da cara de susto e vontade de rir simultâneas mais engraçada que já vi na vida.
How bizarre... how bizarre...