sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Dona Fernanda Montenegro

Hoje à tarde o mundo despencou sobre São Paulo. Como mais do que esperado, o trânsito parou. O paulistano se assusta já ao ver uma nuvem cinza no céu e parece que já pisa no freio. Um pisa e o outro é obrigado a pisar. E assim e não só por isso, ficam todos estancados nas marginais e nas avenidas, e o relógio corre mas o velocímetro não. Viver em Sâo Paulo é um teste de paciência. Mas ao contrário da paulistanada, eu não estava sentada no banco de um carro. Eu estava no meu sofá esperando alguém que estava dentro de um. E com os ingressos de Viver Sem Tempos Mortos nas mãos há uma calculada semana, temia por perder não só quase cem reais (foi-se o tempo da carteirinha de estudante) mas perder também a oportunidade, mais uma vez, de ter a honra de assistir à Dona Fernanda Montenegro. Tic-tac, tic-tac. Buzinas, faróis, semáforos. Mas, como é impossível fazer parte de um congestionamento sozinha, boa parte daquela fervorosa plateia também temia o mesmo que eu. E todos chegamos a tempo! Quer dizer, todos menos dois pagantes das poltronas ao nosso lado, que -sinto muito por eles - nos proporcionaram um ângulo melhor da Nossa Dama do Teatro. Só dela, de uma cadeira e de um feixe de luz, escorados sobre um belo texto de uma rica vida cercada dos mais abastados personagens. Não precisou de mais nada. E ela fez do nada o mais farto espetáculo! Sessenta minutos para refletirmos sobre a vida e a morte, sobre o papel da mulher, para de alguma maneira me identificar com Simone de Bovoir e com o amor e fascinação por Sartre: "Eu sou você"... Refletir sobre a verdade. Felicidade. A liberdade. Uma aula com a melhor professora que a arte poderia me dar. Fernando Leal estava certo. Não há palavras para Dona Fernanda Montenegro. E ah! Passei no teste para comercial de uma escola de inglês! Gravo dia 14 e aviso que vem gente famosa junto... Já é o meu primeiro presente de Natal! Boa sexta-feira! O ano ainda não acabou...