Te digo que fomos ninjas em apresentar o Porca Miséria dadas as condições de temperatura e pressão. Falando também literalmente.
Terça-feira, ao chegar do curso de tv (que estou amando por sinal!) quase meia-noite, comi alguma coisa, tomei meu banho e começamos o processo de colocar os bobs no meu cabelo (tipo Dona Florinda). As meninas foram lindas e pacientes e fizeram um bom trabalho. Às 2h da manhã, fui dormir. Quer dizer, deitar. Impossível dormir com bobs na cabeça, e eu já sabia disso! Eu rolava para cá, rolava para lá... Tentei dormir sentada. Sem êxito. Tentei dormir apoiada no queixo, idem. Desesperador! De repente, meu despertador toca, às 4:45h e era hora de seguir viagem. Fiz minhamaquilagem, tomei rapidamente meu café e passei pelo teste de fogo de andar nas ruas dos Jardins, no metrô e na rodoviária de São Paulo com bob na cabeça. Engraçado? Imagina! O que você pensaria ao ver uma menina com uma mala, uma mochila e bobs na cabeça às 6h da manhã no metrô de São Paulo? Que ela é uma verdadeira atriz, certo? Bom, eu não estava nem aí. Vesti minha máscara já corriqueira de cara-de-pau e segui viagem. Peguei o ônibus das 6:30h e cheguei no horário previsto. Ao tentar dormir no ônibus, não obtive êxito também, e comecei a enjoar com tantas curvas da estrada do circuito das águas, com tanto sono e tanta apreensão de apresentar o Porca Miséria sem ao menos ter ensaiado. Conclusão: cheguei zonza em Amparo, com mal-estar, o que me fez comprar uma Coca-Cola normal na rodoviária (nunca compro uma Coca-Cola normal), tentei comer um salgado, mas metade foi para o lixo. E o medo de passar mal no palco? Ai como rezei para que a pressão não caísse e eu caísse junto! E o medo de não rolar um entrosamento com os dois novos atores que substituíram dois antigos de última hora? Detalhe: atores com os quais eu jamais havia ensaiado e que ao menos nem conhecia!
Cheguei, e me apresentei para a atriz e para o ator estreante (que era virgem de palco até então, mas que nasceu com um talento nato): "Olá, sou Miquelina Buongermino!" Mas eles já me conheciam do dvd de outras apresentações da peça. Não tínhamos camarim, e nos arrumamos em uma sala de aula da faculdade. Tivemos 40 minutos para nos trocarmos, ajeitarmos o cenário com todas as tralhas que a peça exige, e começamos na mais pura pressão de acabarmos a peça mais cedo para que o público de professores pudesse sair às 13h para almoçar. Impossível! O texto ainda estava meio enferrujado, esqueci uma fala mas, experientes que somos, soubemos contornar, e o ar-condicionado estava desligado. Ok. A primeira sessão foi ok. Erros? Alguns. Timing? Lento. Risadas? Muitas. Almoçamos, conversamos bastante durante a siesta, e lá fomos nós para a segunda apresentação. Perfeita! Timing? Excelente. Texto? Sem erros. Sonoplastia? Um erro mas que eu soube controlar muito bem (como reagir quando o telefone que era para tocar não toca? Finge-se que ia fazer uma ligação e vê que uma outra pessoaestá na linha, lógico! Sacada essa que tive 3 segundos para decidir como fazer...). Risadas? Muitas mas menos do que na primeira sessão. Emoção! Muita emoção!
Fomos heróis nessa quarta-feira em Amparo! Sem ensaio, sem dormir, após horas de viagem, enjoados, um com febre, eu com dor de barriga, com duas substituições de última hora - sendo um dos atores estreantes -, em um palco hostil onde as coxias foram improvisadas com biombos, sendo que nossa última vez juntos fora em outubro! Eu nem acreditava! Foi lindo!
Agora guardamos as coisas e esperamos até setembro, quando apresentaremos no 5o Festival de Teatro no Teatro Municipal.
Cheguei em Ribeirão 23h. Cansada? Não! Morta, porém realizada.
Mas tudo vale a pena quando a vontade não é pequena. Foi como eu disse, meu amigo: isso não é para qualquer um!