quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Ainda as cartas... jamais teria neste momento palavras tão ou mais sábias do que estas...

"A carne é um peso difícil de se carregar. Mas é difícil o que nos incumbiram; quase tudo o que é grave é difícil: e tudo é grave. [...] Sabemos pouca coisa, mas que temos de nos agarrar ao difícil é uma certeza que não nos abandonará. É bom estar só porque a solidão é difícil. O fato de uma coisa ser difícil deve ser um motivo a mais para que seja feita. [...] No entanto, o caminhar do tempo traz mais de um auxílio para a nossa indecisa aprendizagem. [...] O futuro está firme, caro Sr. Kappus, nós é que nos movimentamos no espaço infinito. [...] Deve pensar então que algo está acontecendo em si, que a vida não o esqueceu, que o segura em sua mão e não o deixará cair. Por que deseja excluir da sua vida toda e qualquer inquietação, dor e melancolia, quando não sabe como tais circunstâncias trabalham no seu aperfeiçoamento? Para que perseguir-se a si mesmo com a pergunta: de onde pode vir tudo aquilo e para onde vai? Não sabia estar em transição? Desejava algo melhor do que transformar-se? Se algum ato seu for doentio, lembre-se de que a doença é o meio de que o organismo se serve para se liberar de um corpo estranho. [...] o senhor é também o médico que se deve vigiar a si mesmo. Em muitas doenças, porém, há dias em que o médico nada pode fazer senão esperar. É o que o senhor deve fazer agora, porquanto é seu próprio médico. Não se observe demais. Não tire conclusões demasiadamente apressadas do que lhe acontece; deixe as coisas acontecerem. [...] Lembre-se como esta vida, desde a infância, aspirava aos "grandes". Vejo-o abandonar agora o grande para chegar aos maiores. Eis porque não cessa de ser difícil, mas tão pouco cessará de crescer."