sábado, 6 de fevereiro de 2010

Cartas a um Jovem Poeta (Rainer Maria Rilke, pg. 22-25)

"O senhor está olhando para fora, e é justamente o que menos deveria fazer neste momento. Ninguém o pode aconselhar ou ajudar - ninguém. Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? [...] Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples "sim", então construa a sua vida de acordo com esta necessidade. [...] Utilize, para se exprimir, as coisas de seu ambiente, as imagens de seus sonhos e os objetos de suas lembranças. Se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não a acuse. Acuse a si mesmo, diga consigo que não é bastante poeta para extrair as suas riquezas. Para o criador, com efeito, não há pobreza nem lugar mesquinho e indiferente. [...] Talvez venha a significar que o senhor é chamado a ser um artista. Nesse caso aceite o destino e carregue-o com seu peso e sua grandeza, sem nunca se preocupar com recompensa que possa vir de fora. [...] Sua vida, a partir desse momento, há de encontrar caminhos próprios. Que sejam bons, ricos e largos é o que lhe desejo, muito mais do que lhe posso exprimir."

Em off

Depois de desistir do ensaio de Cinderellebration, depois de aceitar e recusar um trabalho estúpido de uma agência estúpida, depois de ir chorar embaixo de uma árvore do Ibirapuera e depois de comprar num sebo perto de casa Cartas a um Jovem Poeta - para quem sabe, me consolar -, fugi de novo e em off ficarei por algum tempo. Decidi acreditar que meu ano dourado começará apenas após o Carnaval...
Já li as cartas de Rainer Maria Rilke. Me consolaram? Talvez. Acho que eu me entendo no meu desespero, na minha loucura, na minha não vã solidão...