quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Gravação

E de repente tudo faz sentido novamente!
Chega de bobagem, de paranoia, de papagaiada, de crisezinha! O meu problema eu já descobri qual é: o ócio involuntário da profissão! É isso! Bingo!
E como hoje tive um dia laborioso... deito com a consciência mais tranquila, mesmo sabendo que neste momento inaugura uma super balada sertaneja com show de Fernando e Sorocaba (odeio sertanejo mas adoro Bala de Prata e Ciumenta) e eu vou perder. Mas, ossos do ofício, e uma menina de família deve deitar e dormir em plena terça-feira à noite e não ficar partyando em festas open bar São Paulo afora...
Pela manhã montei minha mala já sabendo que não voltaria tão cedo para casa e fui até a já mencionada grande agência. Vários atores estavam lá para serem entrevistados e terem seus materiais entregues. Não sei no que vai dar. Dedos cruzados!
Almocei num por quilo qualquer e segui para a Record para uma gravação de dois dias que paga meu Blackberry (o roubado...), como protagonista, do quadro Sonhando Mais um Sonho do Gugu. Dentro da van com destino à Praça do Pôr-do-Sol e posteriormente ao Quality dos Jardins, tive o roteiro entregue em minhas mãos. E naquele momento começou a interiorização da personagem...
Vamos lá, a história real: Aline é uma contorcionista de circo que conhece seu futuro marido aos 17 anos. Casam-se e Gregory vai também trabalhar no circo, porém como eletricista. Tiveram seu primeiro e único filho, Samuel e quando este acabara de completar dois anos, Gregory morre eletrocutado. Uma tragédia! Aline então, passando dificuldades, escreve uma comovente carta ao Gugu, pedindo ajuda para consolidar o sonho da casa própria. Ele atende ao seu pedido.
Assim, hoje gravamos a cena em que Aline (eu!) acaba de ter seu bebê na maternidade e embebidos da alegria de formarem uma nova família, resolve dar o nome de Samuel ao pequeno. Foi comovente, embora com um ensaio e um take válido. Me assustei primeiramente quando, ao ter o bebê entregue aos meus cuidados, ele abriu o berreiro. Mas era fome! Uma mamadeira depois, ele voltou aos meus braços que nem um anjinho! Em seguida, aquela sala locada do hotel transformou-se no velório do marido. Nascimento e morte na mesma locação. Coroas de flores. "Saudades". Um caixão. Um ator de maquilagem pálida e algodão nas narinas. Sentimentos antagônicos que levaram a atriz às verdadeiras lágrimas. Tudo aquilo me era muito familiar... Os figurantes relataram que se emocionaram com minha tristeza, abraçada ao pequeno Samuel - agora de dois anos, apesar de o menino ter na realidade uns quase 4... -, que custou a parar quieto e várias vezes, por questão de segundos, quase me tirou da personagem. Um silêncio reinou no set mesmo após o "corta". Respeitaram o meu luto. Recebi os parabéns do diretor, que já conhecia o meu trabalho desde o "Um Homem Chamado Gertrudes". Me senti mais atriz!
Amanhã continua! A locação: o Circo Stankowich. A cena mais temida: a morte do marido... Mais lágrimas virão... Ainda bem que tenho muita inspiração para além do sofrimento de Aline... Experiência de vida ajuda muito nessas horas! Nada é em vão.
Eu preciso entrar logo numa emissora e trabalhar simplesmente t-o-d-o-s os dias! O foco é profissional!
Boa noite! E bom sertanejo para quem foi...