segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Tanta coisa...

Dormi quatro horas apenas de ontem para hoje devido à Festa da Lagoa que se estendeu com um farto café da manhã no buffet de uma baguetteria e o churrasco de 29 verões do meu irmão. Pensei em ir dormir... quase puxei o edredom para deitar... mas antes de mais coisas se acumularem, resolvi registrar os últimos dias - que foram movimentadíssimos.
Quinta-feira fui tranquilamente trabalhar no Pacaembu. Quer dizer, tranquilamente não porque eu ainda estava uma pilha de nervos, não tive vontade de ir correr no dia, estava inchadérrima e sem saber o porquê... Sem grandes problemas no decorrer da recepção, naquele esquema que já estou cansada de fazer, as companheiras de sempre, o kit-lanche de sempre, fora o comemoração do 500o jogo do goleiro Marcos, o estádio estar mais lotado que nunca e os três churros - doce de leite, chocolate e chocolate - que devorei. E aí veio o fato do dia: ir embora. Fiquei feliz com a carona da van da produção que me deixou na Cardeal Arco Verde, de onde teoricamente eu pegaria o ônibus que me levou até a Dr. Arnaldo. Nisso o relógio pontuava meia-noite e dez. Meia-noite e vinte. Meia-noite e meia. Meia-noite e cinquenta e apenas três ônibus haviam passado e nenhum que entrasse na Faria Lima. Eu já tinha lágrimas nos olhos, rancor no coração, pensei em pegar um táxi mas lá iria boa parte do meu cachê e peguei um ônibus que me deixou no Largo da Batata, era minha única alternativa. A 1 da manhã estava eu, sozinha, andando naquele local de forrós, churrasquinho de gato, homens, mulheres e travestis de rua, todos bêbados e mal encarados. Coloquei minha bolsa por dentro do casaco, me movimentava com um andar de malandra, fazia cara de brava e segui até o primeiro ponto da avenida. Nada de ônibus. O único que parou andaria apenas mais dois pontos... o provavél que me levaria até em casa eu perdi... e nisso eu já apelava aos deuses e já xingava todos os santos e demônios... vinte minutos esperando na cálida noite e nada. Resolvi ir andando. Pelo menos eu sabia onde meus pés me levariam e em quanto tempo eu chegaria na minha tão desejada casa. Pensei: "Se Deus está comigo, ele vai me proteger e nada vai acontecer.". E eu andava. E andava. Olhei para o céu e vi a primeira estrela da noite e nem consegui fazer meu desejo. Minha trilha sonora da madrugada estava banhada das músicas mais densas e deprês, eu tentava segurar o choro até que ouvi a música de Avril Lavigne que diz: "Trippin´out, spinning around, I´m underground, I felt down. I´m freaking now, so where am I now? Upside down and I can´t stop now. You can´t top me now. I´ll get by, I´ll survive. When the world is crashing down, when I fall and hit the ground, I will turn myself around, don´t you try to stop me. I won´t cry". Nesse momento eu senti uma vibração positiva, pensei que nada daquilo era em vão, que chegaria em casa em poucos minutos e que tudo aquilo um dia seria parte de lembranças engraçadas de um tempo onde as coisas não eram nada fáceis e que ainda poderia contar sobre aquela minha marcha atlética na Faria Lima às 2 da manhã em plena quinta-feira para economizar num táxi que comeria 20% do meu cachê no Programa do Jô. E foi quando selecionei a música "I don´t have a cent, will I pay my rent? And even my car doesn´t work. Me and my man, he´s the one to die for, we have split up. Can´t you see, life is easy, if you consider things for another poin of view" e tive uma descarga das energias ruins e o resto da caminhada não foi uma tortura. Cheguei em casa, sã e salva, morrendo de cansaço e vontade de ir ao banheiro. E foi quando descobri que toda minha crise fez parte de uma TPM terrível e inesperada que acabava ali, com uma descarga de hormônios que desceu provavelmente durante a música de DB Boulevard... Mulheres!
Sexta-feira acordei com um telefonema a cobrar de um prefixo 031 às sete e quarenta da manhã. Obviamente não atendi mas já levantei, tomei meu café com leite no bar da esquina e fui correr no parque para me livrar daquelas calorias vazias dos incontáveis e suculentos churros da noite anterior e verifiquei o Ibirapuera no seu período de 90% de frequentadores acima dos sessenta anos.
Na volta, parei numa loja gracinha da Joaquim Floriano que há exatos quatro meses paquero a vitrine mas nunca entro, experimentei mil blusas e comprei três, fui ao supermercado e às 11 e quarenta, cronometradamente, estava em casa. Tomei banho, fiz meu almoço e recebi a mensagem no msn de uma agência querendo saber quantos anos eu tinha mesmo. 24. "Hummm muito nova...". Era um teste para Caixa Econômica Federal e pediam mulheres de 30-35. E mesmo assim, eu tinha o showroom com horário para acabar às 18:30h. Não ia dar tempo.
E fui desfilar! Fingindo ser uma modelo com carreira longa nas passarelas, fizeram baby liss nas madeixas, maquilagem e começamos com as trocas de roupa. Calça jeans, legging... short. Baby-doll. Eu e meus roxos, em plena passarela, a 3 metrôs dos olhares aguçados dos clientes da Criativa, sem tempo para o corretivo que disfaçasse os sinais daquela Mokai de quarta-feira... Coloquei um sorriso na cara e paguei de bonita com pernas lindas. Sobrevivi! Não tropecei, não cometi gafe, coube em todas as roupas - inclusive no jeans 38 - e já coloquei no meu currículo. Posso dizer que sou "modela" agora?
Voltei para casa às 16:30h ainda em tempo do teste! "Diga que tem 28!". Troquei minha roupa estilo jovem moderna por uma calça jeans, uma regata preta e uma malha cinza estilo conservadora e fui! Peguei um ônibus e em 15 minutos cheguei estava lá, preenchendo os dados e mentindo que tinha 26. Data de nascimento: 11/04/1984. Fiz amizades enquanto esperávamos o teste, recebi cachê-teste, maquilagem, claquete, câmera, ação! A resposta sai amanhã ou no mais tardar terça. Podia dar certo, né...
De lá fui comemorar a apresentação da tese de mestrado de uma amiga de faculdade junto com queridos unespianos, fotos, queijos e vinhos. Recebi efusivos cumprimentos de amigos que se declararam até então incrédulos com minha nova carreira ou receosos sobre minhas escolhas que começam agora a dar frutos mais saborosos. Ouvi carinhosos "você merece" e eu precisava escutar aquilo... Está todo mundo tão adulto... tão responsável... e depois de muitas garrafas de cerveja, vinhos e saqueritas, alguns continuam tão irresponsáveis... Uma noite deliciosa recheada de boas lembranças e sinceras gargalhadas. Às três da manhã minha carona me deixou em casa, arrumei minha mala para o final de semana e voei para a cama programando o despertador para as 8 da manhã de sábado.
Sabadão... e lá estou eu regravando a propaganda do Serra. Desta vez mais rápido, com dois figurinos mais ajustados - e não três como da outra vez -, novo cenário, com mais intimidade com a produção e com os colegas coadjuvantes e às 16:30h já estava liberada para voar para Ribeirão Preto. Mas não vim voando e às 18:30h já estava no Cometão, satisfeita com o resultado e já ansiando meu próximo trabalho... E foi ali que respirei fundo pela primeira vez em dias e cochilei ao som da minha querida trilha sonora... Eu estava precisando disso...