sábado, 28 de fevereiro de 2009

O olhar do outro

Já tive a experiência fora do Brasil de como os estrangeiros nos enxergam do lado de lá. Já constatei que os brasileiros realmente vendem a imagem imaculada do sexo, carnaval e futebol. Já tive vergonha de ser brasileira, já relutei em não fazer parte de toda a baderna. No final, me enchi de orgulho de constatar quão lindo nosso país é, e do quanto sentia saudades dele.
Mas, nesses últimos dias, tive a visão do estrangeiro aqui no Brasil.
Ao sair em Ribeirão Preto com duas alemãs, vi o espanto de ambas em relação à ousadia masculina, dos homens que chegam sem muitos rodeios na balada no intuito de beijar, e de repente algo mais. Abismadas, elas me contaram, quase em tom de conto de fadas, como era romântica e gradual a conquista da mulher na Alemanha. Primeiro saiam para se conhecer, o homem a cortejava, mandava flores, e só depois de encontros, rolava alguma coisa. Naquele momento elas sentiram saudade de casa. Até eu senti saudade da Alemanha que ainda não conheço.
Agora neste carnaval, ao passar dias e noites com um amigo britânico, enxergava em seus olhos o bom espanto e a redenção. "I love Brazil!", ele costumava dizer todo santo dia. Como estávamos no Leblon, e escolhemos os blocos pela sua localização, ele não enxergava os problemas sociais, econômicos e políticos dos quais eu tanto tentava fazê-lo compreender. Como tudo era festa, como a cidade estava cheia de pessoas felizes, como os ônibus recebiam foliões que não paravam de cantar, como ele se vestiu de mulher e andou pela cidade e todos acharam engraçado, como ele fazia xixi em qualquer árvore que fosse, como nadamos no mar em plena noite, ele achou que o Brasil fosse carnaval o ano inteiro. Mas eu não quis vender essa imagem frouxa e libertina do meu país.
Até que vinham alguns brasileiros embalados na euforia carnavalesca e diziam para ele: "É, aqui é o paraíso!". Ou então: "Aqui as mulheres são fáceis.". Houve até propostas ao britânico de lhe pagar uma prostituta brasileira, já que era o último dia de festa, e ele ainda não havia beijado nenhuma. Pronto. Imagem vendida, imagem comprada. Mas pelo menos ele disse: "No, thank you". "Good choice, Adrian!" eu disse. Por isso não muito me surpreendeu os califonianos que me perguntaram quanto deveriam pagar por uma mulher brasileira...
A culpa também é nossa.
Porém, aprendi a amar mais nossa quase identidade brasileira e constatei que nenhuma outra música no mundo encanta mais do que a nossa, e que sim, podemos ser o povo mais feliz, mesmo com tantos obstáculos a serem superados.
Tão aí os lados da moeda. Eis a complexidade da compra e venda de imagem nacional. Sinto como uma ofensa pessoal falar da facilidade da mulher brasileira. Mas ela não deixa de ser verdade... Nestes últimos dias tentei esquecer dos problemas, meus e do povo brasileiro, e tentei dar uma de gringa e enxergar somente a beleza carioca, do povo carioca, da folia do Brasil.
Mas continuo a defender minha bandeira, quando os fatos não depõem contra. E a amar o carnaval.

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