Nunca o mundo se comunicou com tamanha velocidade como hoje. Nunca pessoas em extremos opostos do globo conversaram com tanta eficiência. Nunca pessoas se viram, mesmo que a léguas e léguas de distância umas das outras, com a exata nitidez que nossas webcams hoje oferecem. Nunca digitou-se tanto. Nunca seu celular tocou ou apitou tanto como hoje toca e apita. Nunca imaginou-se que a disseminação de ideias chegaria ao patamar que hoje se encontra, amparadas em twittadas, blogs, posts, scraps, bbms, SMS, tudo em questão de segundos! No entanto, a palavra perdeu qualidade e se confundiu com quantidade... Digita-se muito. Conversa-se pouco. Entendemos menos ainda...
Numa mesa de restaurante: o pai, a mãe e a filha de 3 anos. Uma suculenta massa na mesa, os copos cheios. Os pais trocam algumas palavras - talvez porque o restaurante ainda mantivesse a qualidade da tradição e o prato estivesse de morrer - mas enquanto o almoço acontece, Xuxa se faz presente pelo dvd colocado na frente da criança, sentada em seu cadeirão. Mas era domingo. Almoço de domingo! A Xuxa devia estar com Sasha, na sua mesa de trinta lugares na extinta Casa Rosa, não naquela trattoria. Não dialogando virtualmente com a pequenina, silenciosamente obediente em sua bolha. Por que virtual se não real?
Sala de estar: a mãe e a filha, ambas de banho tomado após um dia laborioso. A mãe assiste atentamente à novela, enquanto escuta-se, a alguns passos ao lado, o tilintar das teclas do laptop que não param. Uma redação é escrita em cada caixa de diálogo, não sabe-se bem o quê nem com quem, mas janelas piscam a cada minuto e uma nova conversa é iniciada. Mãe e filha mantêm-se em silêncio. Uma não sabe do dia da outra. Não sabem dos problemas. Nem das novidades.
MSN: Um aqui outro lá. Escreve-se, escreve-se, hahaha aqui, rs ali, comentários, histórias, convites, elogios. Palavras escritas, não ditas nem escutadas muito menos executadas. Palavras não mencionadas, como se não existissem. De momento. Descartáveis. Fala-se muito e quer se dizer tão pouco... A prática não segue o discurso e sabe-se lá porque então conversa-se tanto.
Mas... conversa-se?
Num mundo de limite de caracteres, as verdadeiras palavras perdem terreno para leviandades e para abreviações internéticas. Estamos já no findar de 2010 mas para mim as palavras ainda machucam. Ensinam. Palavras vendem sonhos. Criam desejos. Transmitem emoções. Contam experiências. As palavras não se perdem já que salvas pela memória, mas nesta sociedade do "novo novo" e da enxurrada de informações, a memória é curta e necessária quando convém. Ouve-se muito e escuta-se pouco.
Mesmo em tempos onde a liberdade de expressão é um conceito basilar da humanidade iluminada, ainda temos que segurar as palavras e manter um jogo de aparências. O politicamente correto ainda policia os pensamentos e sentimentos, e até o chorar é visto como uma fraqueza do sujeito. Assim, como em uma brincadeira de adivinhações, tentamos decifrar razões por detrás das palavras mal ditas, sentimentos mal expressados e promessas não cumpridas. Nem sempre o mundo está preparado para ouvir as suas verdades. Ou as minhas, sei lá. Por que falar se não se sente? E por que não falar se realmente se sente?
E ter um blog me faz pensar: será que devo continuar a escrever, mesmo que guardas rondem minhas divagações e fantasmas gorem minhas convicções?
Prefiro o silêncio às palavras ao vento. Palavras não são lixo. Hoje, as bem ditas são luxo....
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