segunda-feira, 23 de março de 2009

Texto ficcional para Audição

"Isso tá em off, né? Mas eu não me considero melhor do que ninguém. Mentira, mentira, me considero sim, claro que me considero! Vamos falar a verdade mas não vamos achar que todo mundo é igualmente dotado, né, porque não é. Nasci bem, cresci bem, apareci bem. Mas se você falar que se acha melhor do que todo mundo, tá errado, você estará sendo sincera e sinceridade nessa merda de mundo não vale muita coisa. Eu odeio a mentira. Hahaha... mentira, porque eu vivo dela. Aliás, mente-se sempre, mente-se o tempo todo, e me desculpe a filosofia barata, mas a vida é uma mentira ininterrupta e resistente. Eu minto, tu mentes, ele mente, nós mentimos, vós mentis, eles mentem...
Sempre tive problemas com a mentira, mas também sou mentirosa, não tem como escapar. Quantas mentiras já não profetizei por aí, em quantas mentiras já não acreditaram, e vão à merda todos vocês os mentirosos que não se assumem e viva nós, os mentirosos conscientes!
Na época do politicamente correto você não pode se assumir mentiroso e muito menos confessar que é superior a todo o resto. Mas foda-se todo o resto e prefiro correr o risco de ser tachada de louca do que viver na mentira, na mentira de que eu não minto. Eu minto, tu mentes, ele mente, nós mentimos, vós mentis, eles mentem...
Mas a mentira é traiçoeira... ela tem perna curta, e mesmo assim a gente cai nela. Eu caí nela e continuando caindo... até chegar no fundo do poço... Aquela noite eu tomei tanto remédio para dormir que eu desejei nunca mais acordar... Por que ele me disse palavras tão lindas a ponto de eu abdicar das minhas mentiras e lhe falar toda a verdade?... Hein?! Ah como eu o amava, como eu fiz tudo por ele, como eu faria de tudo para que tudo aquilo fosse verdade... A partir de então eu decidi nunca mais dizer a verdade. Do que adianta nascer bem, crescer bem, aparecer bem se a gente cai? Cai, cai, cai e se fode, acreditando na mentira do outro que a gente gostaria que fosse real...
Pára! Pára. Eu tô bem. Eu tô ótima! Eu nasci bem, eu cresci bem, eu apareci. E enquanto todo mundo me admirar, eu tô ótima.
Vamos começar?
-Se eu sou feliz? Ah, eu sou a pessoa mais feliz do mundo! Estou num momento máximo de minha realização pessoal e em perfeita sintonia com o mundo!
-Se a fama já me subiu à cabeça? Jamais. Sempre tive os pés no chão e nunca me achei melhor do que ninguém. O público é que me faz viver e dessa maneira, eu sou subalterna a eles. Devo tudo aos meus fãs.
(Mentira!)
-Próxima pergunta...?"

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