quinta-feira, 28 de maio de 2009

Um comentário apoiado em notas de Carlos Alberto Montaner, em A Cultura Importa

Apenas me ocorreu por esses dias que, mesmo após séculos da revolução de jacobinos e girondinos, as pessoas ainda gostam de se rotular e de tachar os demais de "esquerda" e "direita". E essas denotações carregam estigmas, difíceis de serem quebrados, que são ditos e repetidos e repassados de geração em geração, como por exemplo, na universidade. As universidades públicas latino-americanas, especialmente se tratando da área de humanas, são depósitos arcaicos de velhas idéias marxistas sobre economia e sociedade. É como se a universidade se rebelasse, ressentidamente, contra um modelo social que detesta, mas sem propor um novo, usando artifícios ultrapassados e calcificados, que se tornam jargões e colocam a cabeça de muitos numa esquizofrenia sobre o que é ser contra o sistema e o que é ser a favor do sistema, muitas vezes sem levar em conta que todos estamos inseridos no mesmo esquema, quer você queira, quer não. E daí nascem incoerências, contradições, manifestações vazias, preconceitos fossilizados, e o sentimento de superioridade por ser da ala esquerda ou da direita, tanto faz. E Che Guevara costuma ser uma espécie de patrono, e tantas vezes aqueles que vestem sua camisa e proclamam suas palavras desconhecem a história deste que certamente foi um grande homem.
Existe uma doutrinação dentro das universidades, e muitas pessoas gostam de carregar consigo uma espécie de crachá, fazendo questão de mostrar e tentar provar, mesmo que paradoxalmente e contraditoriamente, que são de uma ala ou de outra. Uma amiga me disse, quando estávamos no segundo ano de faculdade, uma época de turbilhão de lutas políticas dentro dos muros acadêmicos, embebida de um marxismo plano, utópico e senso-comum: "Eu não sirvo para trabalhar em empresas. Essa história de lucro não é comigo." Pensei: "Ahhh, ela ainda vai moder a língua!". Não deu outra. Foi a primeira a se formar e fazer parte do staff da IBM. Damos risada disso hoje em dia, mesmo ela não sendo fã de seu estilo de vida e de seu trabalho.
Eu nunca me tachei de nada. Aliás, o que fiz muito bem ao longo da minha graduação foi me manter "em cima do muro", o que muitos definiam como apatia ou peleguice. Mas te garanto que do meu ponto estratégico, tive visões privilegiadas de ambos os lados e os observava se degladiando em uma batalha sem vencedores, e por isso tenho aversão à esquerda, à direita ou ao centro.
Aí, gostam também os artistas ou metidos a artistas de se colocarem automaticamente dentro dessas convenções esquerdóides, soando até forçado para quem vê. Para que isso? O simples fato de você fazer arte não o tacha de uma coisa nem outra. Temos sim, cada um, suas crenças e convicções, mas não vamos nos enquadrar nos esteriótipos, não é, galera.
Na realidade, é mais gostoso pensar que na verdade estamos todos misturados, ora lá, ora cá, ora lá e cá, tentando nos encontrar e nos afirmar como cidadãos pensantes, vivendo nas contradições e incertezas desse mar revolto que é esse esquema louco do sistema.

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