Ainda estou na leitura densa de Cem Anos de Solidão. Acho que terei esse livro para sempre na minha mochila, já que sempre chama atenção de pessoas interessantes que por mim passam ou que sentam ao meu lado. No ônibus, na poltrona ao lado, veio uma simpática e articulada senhora mineira que mora em São Paulo há 27 anos e tem família no Rio. Sônia. Me contou que ficou aliviada ao saber que eu seria sua companheira de viagem, já que tantos sem dentes perambulavam pela rodoviária e pelo ônibus. Disse-me também que foi professora de Citologia na USP e hoje dedica sua vida a ler livros dos mais diferentes assuntos. Sobre o Islã era a escolha da vez. Me mostrou que em sua mala carregava outros 4 livros. E que jamais voltaria a ler sobre celúlas e formação dos tecidos, dos órgãos e do corpo humano. Me contou com carinho sobre sua família, sobre os netos, e disse que fará os mais positivos pensamentos para minha carreira. "Você é jovem. Tem muita estrada pela frente. Mas a vida é curta e eu apóio que façamos o que a gente gosta", ela disse. Não deu tempo de falar tchau para Sônia, mas foi uma bela companhia.
Aí então, dois fatos bizarros me acompanharam nas 6h de ponte terrestre. O primeiro foi um senhor, muito magro e alto, que teimou em tocar gaita e flauta durante toda a viagem, mesmo com a reclamação de muitos passageiros. Bateu o pé, disse que estava aprendendo a tocar e que quem estivesse incomodado que fosse para o fundo do ônibus. Hahaha... surreal. Ainda bem que meu MP3 me acompanhou durante grande parte da viagem e que mesmo assim, eu amo o som de gaita.
O segundo foi um senhor já de idade, com pinta de louco, que flagrei balançando o vestido de uma senhora que se levantou para retirar a mala do bagageiro e passou de leve a mão em sua bunda. Acho que na correria a mulher não chegou a perceber, mas eu vi a malandragem do velho e sua taradice. Que nojo. Se fosse comigo eu cuspiria na cara e chamaria de porco. Tem homem que não tem noção mesmo, né...
Cheguei em São Paulo às 4 da tarde... e como de costume, a cidade perdeu outra parte de seu brilho ao ser comparada com a Cidade Maravilhosa. Eu tentei me segurar e reforçar que adoro São Paulo - o que é verdade -, mas não pude evitar.
Fui para a aula de teatro, exausta, tive a última aula de voz, recebi boas críticas da professora, ensaiamos a peça de julho, cheguei em casa, contei resumidamente meus dias calorosos de Rio de Janeiro para as meninas, tomei uma canja, e estou aqui sentada, tentando colocar meus afazeres em dia com minha mala aberta e minha cama repleta de roupas no quarto. Tive a tensa notícia de que preciso saber o que vou fazer da minha vida, já que pretendemos desocupar o apartamento em breve devido ao retorno do garoto de intercâmbio. Mas o que pairam na minha cabeça são dúvidas a respeito do meu segundo semestre. Como posso assumir um quarto num novo apartamento na Selva de Pedra se não sei se continuarei aqui? Quando tudo parece tranquilo, alguma bomba estoura. Já estou acostumada com isso. Não sei o que fazer.
Sônia me contou sobre o insight de seu neto prodígio de 11 anos acerca da Filosofia: "Será?" é filosofia. "É." não é filosofia. Minha vida nesse momento se resume à filosofia... ser ou não ser... ir ou não ir... fazer e como fazer... falar ou não falar... pensar? São tantas questões...
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